terça-feira, 19 de julho de 2011

RECEITA DE VIDA

                                                                                                                                        Pedro Bloch

Tenho tres normas bem minhas: (A) a vida é curta demais para atos mesquinhos; (B) o que é meu ninguém me tira; (C) fazer o melhor possível, o resto é problema dos outros.
Tradução: Cada momento que passa deve ser vivido com um sentimento eterno; se me tirarem algo é porque não era realmente meu; era coisa que eu tinha simplesmente; não estava integrada no meu ser. Preocupo-me em ser e fazer o melhor que eu posso; a reação alheia é problema alheio.

Viver é expandir, iluminar. Muita receita de viver é fuga da própria vida. Viver é derrubar barreiras entre os homens e o mundo. Compreender. Saber que muitas vezes, nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as grades em vez de libertar-nos.

No fundo de cada ser humano existe uma dimensão universal e única ao mesmo tempo: descobrimos nos outros esta dimensão.

Não podemos viver, permanentemente, grandes momentos, mas podemos cultivar sua expectativa. A gente só é o que faz aos outros. Somos consequencia dessa ação.

Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida. Não se realizar. O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final.

Um profundo respeito humano. Um enorme respeito à vida. Acredito nos homens. Até nos vigaristas.
Desenvolver o sentido de identificação com o resto da humanidade. Não nadar em piscina quando se tem mar à frente. Não salvar peixe em balde, mas devolvê-lo ao mar. "Saber esquecer o mal também é ter memória". As melhores coisas da vida é saber gostar. Considerar que tudo e todo mundo é perfeito... até prova em contrário. Gostar de gostar.

Gostar de fazer. Não fazer... me deixa extenuado.

Dinheiro não enriquece ninguém.

Acreditar mais na verdade que na bondade. A verdade é quintessência da bondade; é bondade a longo prazo.

Acredito mais no sobrenatural. O natural, pra mim, não existe.
Tudo que está aí é milagre: pássaro, gente, amor.
Os sábios vivem debruçados no milagre. A verdade é caminho, não é fim. Não crêr em Deus é pretencioso. Não num Deus que deixa negro apanhar, gente morrer na guerra, nem barbado sentado numa poltrona de ouro. Mas tudo que está acima de nossas limitações. O pulo do astronauta é rídiculo diante do universo. No fim do meu caminho, Deus me perdoará minhas falhas humanas. Afinal de contas Ele não sabe fazer outra coisa.
Perdoar é o grande vício de Deus.

Um comentário:

  1. Maravilhoso, Bethy! Eu li este texto na escola quando cursava a 6a. série do 1º grau, em 1970. Desde então considero-o a minha bússola e até a minha bíblia. Parabéns por regatá-lo. Tenho procurado muito por ele aqui na internet, mas fizeram muita adaptação e as publicações que vi, não correspondem ao texto que foi escrito pelo autor. A sua postagem é a que mais se aproxima do texto original que recebi da professora e que logo depois, li na publicação veiculada na extinta Revista Manchete, onde o autor, Pedro Bloch tinha uma coluna e escrevia crônicas igualmente maravilhosas. A minha única ressalva é para você corrigir o título para 'Receita de viver', ok? Parabéns pelo Blog!

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