sexta-feira, 22 de julho de 2011

Não grite sua dor aos quatro ventos, procure ajuda. Não exponha demais suas mazelas, respeite seu luto e o silêncio que vem junto. A vida é cíclica e tudo faz sentido, mesmo que demore muito. E não deixe nunca de confiar no seu poder de superação: é a maior dádiva que a Vida nos deu. A melhor fase ainda virá, acredite. Fale do seu íntimo com as pessoas certas e não banalize sua “esquizofrenia”: ninguém precisa acordar e ir dormir com o mesmo humor. E se achar que está enlouquecendo, experimente a loucura, pode até ser divertido. O tédio do mundo está na falta de cor das pessoas aparentemente “normais”, mas ele também precisa delas para funcionar. Ninguém é tão feliz o tempo todo e a vida não é linear assim: cinismo é diferente de otimismo. Seja alguém de verdade. E se deixe tocar pelas coisas que se comunicam com você lá dentro. Se não encontrar amparo do outro, dê-se. Não queira que sintam pena de você: não sentimos pena de quem admiramos. Reflita, reflita, agasalhe-se de bons pensamentos, funciona em algum momento. E pare de falar mal dos outros: todo réu teve sua oportunidade dada pela “tal vítima”. Marla de Queiroz

Um comentário:

  1. Boa noite!
    Percebi que sou o único homem por aqui até então, mas que diferença isso faz?
    Descobri um cãncer de fígado em fevereiro e desde então venho fazendo quimio e aguardo um transplante na fila, já que essa é a única solução pro meu caso.
    Gostaria aqui de ajudar outras pessoas que foram pegas de surpresa pelo cãncer e mostrar que podemos sobreviver, e bem, à ele.
    Assim, aqui estou eu para compartilhar um pouco da minha esperiência.
    Aqui estamos eu e a insônia que resolveu me visitar essa noite. Faz muitos anos que ela não vinha passar a noite comigo, mas já que estamos aqui e ela não parece querer ir embora, vamos aproveitar esse tempo juntos para produzir algo útil.

    Mais uma quimio se foi, passou. Foi muito difícil, dolorida, pela primeira vez achei que não ia agüentar, mas passou e estou inteiro, sem dor e sem remédios, e sim, pronto para a outra.

    Fiquei internado por três dias, dessa vez instalaram uma bomba de morfina que liberava a droga incessantemente. Depois que retiraram o aparelho, veio o baque. Mesmo depois da alta hospitalar eu ainda estava confuso e detonado, dores de estômago fortíssimas, mas depois de dois dias, eu já estava 100%, descansando para recomeçar uma nova semana de trabalho com disposição e um sorriso verdadeiro no rosto. Essa é minha marca.

    A boa notícia disso tudo é que o tumor maior que na primeira quimio tinha aproximadamente 2,5cm agora mede menos de 1,0cm! O médico até chamou minha irmã para mostrar a evolução positiva do tratamento. Assim fico mais tranqüilo à espera do transplante.

    Por falar nela, minha irmã, não lembro mais como é falar dela sem me emocionar. Nunca falei isso para ela, mas os gemidos de dor que involuntariamente saem de mim, são a expressão máxima do meu limite de tolerância, sofro muito ao ver o rosto angustiado dela a me ver sofrer. Quando vemos alguém querido sofrendo, o que mais gostaríamos é que ao menos um pouco daquela dor pudesse cair sobre nós, tentativa inútil de aliviar a dor alheia. A única certeza que levo disso é que a dor é infinitamente menor quando ela está por perto, com seus olhos atentos que absolutamente nada deixam escapar.

    A vida é cheia de surpresas, às vezes ela aparece com um pacote que você não quer abrir, mas é seu, está lá seu nome escrito em letras garrafais, e aí não há outra opção, senão ver o que ela trouxe para você dessa vez. Às vezes é um novo amor, um pacote lindo cheio de sonhos e possibilidades, outras vezes uma viagem, cheia de surpresas e descobertas, mas às vezes o pacote traz a doença, a tristeza e até o prenúncio de um fim. Nesses últimos meses que venho desempacotando essa doença e tudo o que ela traz consigo, tenho aprendido muito. Nessa última quimio, mais que na primeira, houve momentos que achei que era meu limite, momentos em que pensava “isso é só o começo, meu caro, o pior ainda está por vir, UTI, cirurgia, etc” e na hora em que me senti mais abatido e já quase sem forças, só tinha uma coisa em mente: “vai passar, uma hora vai passar essa dor,”. Uma das várias coisas que venho aprendendo com o câncer é que nada é eterno, tampouco a dor e a desesperança. Terei sempre isso em mente: “vai passar”. Desta maneira, tudo fica mais brando, menos sofrido.

    Vejo o caos devastador que aconteceu esse ano no Japão e lembro que eles já passaram por uma bomba atômica, e, adivinhem? Passou. Agora eles sofrem muito, mas estou certo que tem em mente que irão superar essa fase, e que essa fase, também para eles, vai passar.

    Agora é aproveitar essas próximas semanas de calmaria física e juntar forças para que a próxima quimio passe e leve consigo tudo aquilo que não faz parte de mim.

    Coragem! Tudo isso já está passando!
    Se precisarem de mim, uma palavra, um ombro, estou aqui!

    Fiquem bem! Vai passar!

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