quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DISCURSO DE STEVE JOBS NA UNIVERSIDADE DE STANFORD, EM 2005.

DISCURSO DE STEVE JOBS NA UNIVERSIDADE DE STANFORD, EM 2005.

Você tem que encontrar o que você ama

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores
universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a
verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma
cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três
histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três
histórias.

A primeira história é sobre ligar os pontos.

Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei
enrolando
por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu
a abandonei? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era
uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção.
Ela
queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior.
Tudo
estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado
e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam
mesmo
uma menina.
Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma
ligação no meio da noite com uma pergunta: “Apareceu um garoto. Vocês
o querem?” Eles disseram: “É claro.”

Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha
se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o
ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só
aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia
eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a
faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão
cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da
classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades.
Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo.
Eu não tinha ideia do que queria fazer na minha vida e menos ideia
ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá
estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado
durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo
ficaria ok.

Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das
melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar
de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e
comecei
a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim
romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia
no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para
ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11
quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa
refeição
no templo Hare-Krishna. Eu amava aquilo.

Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e
intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou
dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor
formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada
etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu
tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais,
decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com
serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre
diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia
boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma
maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo
fascinante.

Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas
10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador
Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o
primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse
deixado
aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas
ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows
simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as
tivesse.

Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas
aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa
caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses
fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo
ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.

De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente.
Você
só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de
alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar
em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que
seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito
toda a diferença para mim.

Minha segunda história é sobre amor e perda.

Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha
vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu
tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou
em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um
ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o
Macintosh — e eu tinha 30 anos.

E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você
criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a
companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas
visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o
conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de
toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador.
Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses.

Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores.
Que
tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo
passado
para mim. Eu encontre i David Peckard e Bob Noyce e tentei me
desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso
público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].

Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o
que
fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na
época,
mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido
para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de
ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu
liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida.
Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT,
outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher
maravilhosa que se tornou minha esposa.

A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o
estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável
guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa
e
a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual
renascimento da Apple.

E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que
nada
disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple.

Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às
vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou
convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o
meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso
é
verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que
você ama.
Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única
maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser
um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é
amar o que você faz.
Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não
sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando
encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor
e
melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até
você
achar. Não sossegue.

Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: “Se você
viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o
último.” Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos,
eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje
fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?” E se
a
resposta é “não” por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar
alguma coisa.

Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que
já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase
tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou
falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas
importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para
evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está
nu. Não há razão para não seguir seu coração.

Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu
tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem
sabia o que era um pâncreas.
Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer
incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis
semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas
coisas — que é o código dos médicos para “preparar para morrer”.
Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo
que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer
seu adeus.

Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz
uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta
abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma
agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava
sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos
viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma
muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia.
Eu
operei e estou bem.
Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero
que
seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado
por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do
que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer
morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem
morrer para chegar lá.

Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos.
Ninguém
nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é
muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de
mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo.
Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você
gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão
dramático, mas isso é a verdade.

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de outro
alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida
de
outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz
interior.
E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e
a
sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente
quer se tornar. Todo o resto é secundário.

Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole
Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em
Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque
poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos
programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de
escrever,
tesouras e câmeras Polaroid.
Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google
aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart
e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e,
quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição
final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês.

Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior
ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se
fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras:
“Continue com fome, continue bobo.”
Foi à mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo.
E
eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se
formam
e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome.
Continuem bobos.

Obrigado.

Minha homenagem para alguém que soube fazer a diferença.
Descanse em paz!
Bethy Coimbra

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